terça-feira, 6 de novembro de 2007

Arte que faz sentido para todos os sentidos




Toda arte é um produto. Algo para ser consumido. Tem um preço. Um valor embutido em cada produto artístico no mercado. E mesmo aqueles que estão fora do mercado. Se você não estabelecer o seu preço, o seu valor, alguém o fará por você!

Toda arte é divina. Transcendental. Só deveria chamar-se de arte, obras que, de fato, nos “tocassem” profundamente. Obras que nos levem a crer! Que nos levem para cima ou para baixo; para o riso frouxo ou para as lágrimas convulsivas; para a séria reflexão ou para o gozo enlouquecido; as grandes obras, aliás, fazem tudo isso.

A boa arte é uma equação: entre a centelha divina, o talento; lapidado por anos de labuta (salvo os casos raros de genialidade) e a inteligência comercial, a esperteza mesmo, a consciência prática do mundo em que vivemos e de como colocar a nossa nobre inspiração artística em contato com esse mundo; fazendo sentido nesse mundo; comunicando-se com esse mundo! A arte só faz sentido quando ela se comunica. Emissor, mensagem e receptor; assim mesmo, bem acadêmico! Vale para qualquer manifestação artística. Se não houver comunicação não é arte. É masturbação, por mais bela e inspirada que seja!

Então, se a comunicação é o ar que a arte respira, o caminho natural de qualquer bom produto artístico, bem como a ambição de qualquer bom artista, é a popularização!
Ser popular, ou de forma abreviada... ser pop! Não é? O problema é a carga que tais rótulos, como “pop”, carregam hoje em dia. Eu confesso pertencer a uma linha de pensamento bem simplista nessa área. Pop é popular, ou seja, tudo o que possui ampla inserção na sociedade. Por mais “eruditas” que sejam as convicções do artista, ser popular, em última análise, é o que todo artista almeja!

Mas nem tudo que é pop é bom! Claro! O maior problema para a popularização de um bom produto artístico hoje são os critérios impostos pelos veículos de comunicação em massa. Quando se pensa em atingir milhões de pessoas, antes de qualquer coisa; visando, sobretudo, o lucro (pois estamos falando de grandes empresas, que não podem “se dar ao luxo de ter prejuízo”), inevitavelmente ocorre um empobrecimento da linguagem, do conteúdo, do produto artístico como um todo. E a equação acaba muito mal feita, mas dá lucro!

Daí acabam aparecendo as bostas imensas! A mídia brasileira é especialista em manipular a opinião pública no mau sentido! Quem disse que o povo gosta da banda Kalypso? Quem disse? O Faustão. Trata-se de um negócio. Como um anúncio, só que feito de uma forma duvidosa. Não é uma propaganda no intervalo comercial que diz: comprem esse CD que é bem legal. A estratégia de marketing mais eficaz atualmente passa pela opinião de personalidades públicas, como o Faustão. O cara passa um mês anunciando “a maior banda do Brasil!” “A maior banda do Brasil!” Pronto, era a maior banda do Pará, agora é “a maior banda do Brasil”.

Mas não vou entrar nesse caminho, senão esse artigo não termina nunca; pois esse é um problema de informação, de acesso à informação, de educação. A TV aberta é a maior formadora de opinião, por falta de acesso da maioria à coisa melhor. Ela aceita esse rótulo de educadora, trabalha em prol dessa imagem e oferece um conteúdo cada vez mais pobre. É triste, mas tem gente que se guia pela opinião do Faustão, do Jô, até do Cacau!

Mas eu quero defender a idéia de popularidade, na sua via positiva. Não falo dessas negociatas entre grandes produtores e grandes empresas. Falo de trabalhos valorosos, que rompem o ostracismo por serem obras completas, que falam a todos os sentidos: é erudito e popular, reflexão e entretenimento, prazer e angústia. É um erro histórico separar essas idéias. Elas dependem umas das outras para terem sentido.

A verdadeira arte é a mais refinada, a mais erudita, a mais complexa; mas atinge milhões. Em diferentes níveis, tudo bem; é daí que vem a sua riqueza, sua complexidade, sua beleza. É a música, não só com arranjos geniais, mas com letra, com performance. É a dança, não só com plasticidade, mas com conteúdo. É o filme, não só com humor e efeitos especiais, mas com argumento e atuações de qualidade. É a obra completa! Total! Que se comunica com todos os sentidos. Shakespeare fez isso. Hitchcock, Spielberg; Jerry Lewis; Chico Buarque; Chico Science... Só pra citar grandiosos exemplos. Tanta gente aí que é boa e popular.

Sejamos tudo! Sejamos nós! Sejamos felizes!