terça-feira, 6 de novembro de 2007

Arte que faz sentido para todos os sentidos




Toda arte é um produto. Algo para ser consumido. Tem um preço. Um valor embutido em cada produto artístico no mercado. E mesmo aqueles que estão fora do mercado. Se você não estabelecer o seu preço, o seu valor, alguém o fará por você!

Toda arte é divina. Transcendental. Só deveria chamar-se de arte, obras que, de fato, nos “tocassem” profundamente. Obras que nos levem a crer! Que nos levem para cima ou para baixo; para o riso frouxo ou para as lágrimas convulsivas; para a séria reflexão ou para o gozo enlouquecido; as grandes obras, aliás, fazem tudo isso.

A boa arte é uma equação: entre a centelha divina, o talento; lapidado por anos de labuta (salvo os casos raros de genialidade) e a inteligência comercial, a esperteza mesmo, a consciência prática do mundo em que vivemos e de como colocar a nossa nobre inspiração artística em contato com esse mundo; fazendo sentido nesse mundo; comunicando-se com esse mundo! A arte só faz sentido quando ela se comunica. Emissor, mensagem e receptor; assim mesmo, bem acadêmico! Vale para qualquer manifestação artística. Se não houver comunicação não é arte. É masturbação, por mais bela e inspirada que seja!

Então, se a comunicação é o ar que a arte respira, o caminho natural de qualquer bom produto artístico, bem como a ambição de qualquer bom artista, é a popularização!
Ser popular, ou de forma abreviada... ser pop! Não é? O problema é a carga que tais rótulos, como “pop”, carregam hoje em dia. Eu confesso pertencer a uma linha de pensamento bem simplista nessa área. Pop é popular, ou seja, tudo o que possui ampla inserção na sociedade. Por mais “eruditas” que sejam as convicções do artista, ser popular, em última análise, é o que todo artista almeja!

Mas nem tudo que é pop é bom! Claro! O maior problema para a popularização de um bom produto artístico hoje são os critérios impostos pelos veículos de comunicação em massa. Quando se pensa em atingir milhões de pessoas, antes de qualquer coisa; visando, sobretudo, o lucro (pois estamos falando de grandes empresas, que não podem “se dar ao luxo de ter prejuízo”), inevitavelmente ocorre um empobrecimento da linguagem, do conteúdo, do produto artístico como um todo. E a equação acaba muito mal feita, mas dá lucro!

Daí acabam aparecendo as bostas imensas! A mídia brasileira é especialista em manipular a opinião pública no mau sentido! Quem disse que o povo gosta da banda Kalypso? Quem disse? O Faustão. Trata-se de um negócio. Como um anúncio, só que feito de uma forma duvidosa. Não é uma propaganda no intervalo comercial que diz: comprem esse CD que é bem legal. A estratégia de marketing mais eficaz atualmente passa pela opinião de personalidades públicas, como o Faustão. O cara passa um mês anunciando “a maior banda do Brasil!” “A maior banda do Brasil!” Pronto, era a maior banda do Pará, agora é “a maior banda do Brasil”.

Mas não vou entrar nesse caminho, senão esse artigo não termina nunca; pois esse é um problema de informação, de acesso à informação, de educação. A TV aberta é a maior formadora de opinião, por falta de acesso da maioria à coisa melhor. Ela aceita esse rótulo de educadora, trabalha em prol dessa imagem e oferece um conteúdo cada vez mais pobre. É triste, mas tem gente que se guia pela opinião do Faustão, do Jô, até do Cacau!

Mas eu quero defender a idéia de popularidade, na sua via positiva. Não falo dessas negociatas entre grandes produtores e grandes empresas. Falo de trabalhos valorosos, que rompem o ostracismo por serem obras completas, que falam a todos os sentidos: é erudito e popular, reflexão e entretenimento, prazer e angústia. É um erro histórico separar essas idéias. Elas dependem umas das outras para terem sentido.

A verdadeira arte é a mais refinada, a mais erudita, a mais complexa; mas atinge milhões. Em diferentes níveis, tudo bem; é daí que vem a sua riqueza, sua complexidade, sua beleza. É a música, não só com arranjos geniais, mas com letra, com performance. É a dança, não só com plasticidade, mas com conteúdo. É o filme, não só com humor e efeitos especiais, mas com argumento e atuações de qualidade. É a obra completa! Total! Que se comunica com todos os sentidos. Shakespeare fez isso. Hitchcock, Spielberg; Jerry Lewis; Chico Buarque; Chico Science... Só pra citar grandiosos exemplos. Tanta gente aí que é boa e popular.

Sejamos tudo! Sejamos nós! Sejamos felizes!

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Sexto tiro - 05/12/2006



Deus é você, o diabo, eu, o Cantus Firmus, as baratas e tudo mais que existe.


A palavra é deus. Deus não é palavra. É sua reflexão. Seu reflexo. Sua ação. A palavra posta em prática, que deixa de ser palavra, por jamais caber nela. Sua transformação. Seu oposto, sua antítese. Deus não é tese. Não é teoria. Tão somente prática. Toda e qualquer prática está impregnada de deus.

Simpatizo com pouquíssimas religiões. Não pratico nenhuma. Os rituais e o respeito individual do Candomblé são fascinantes, ainda assim, estou longe de ser um praticante. Mas, a cada dia que passa, sinto mais e mais presente, a me rodear, o invisível, o misterioso, o que te arrepia a nuca e atravessa o mundo indiscriminadamente; aquilo que, no ocidente, convencionou-se resumir na palavra deus.

Não acredito que nenhuma bíblia, nenhuma palavra, nenhuma língua, nenhuma tábua, tenha sido forjada por mando divino. Pois no divino não há o mando. Se deus é toda a criação, então não precisa da palavra. O homem sim. São raras as palavras dos homens que valem a pena serem guardadas. E, com certeza, não estão nas cartilhas religiosas. Deus não é palavra, é planta, areia e mar. Não somente o homem é a imagem de deus, mas o sapo a barata e a minhoca também. Não só as virtudes, mas os vícios. Não só a beleza, mas o indizível horror. Deus tem todas as caras do mundo. Inclusive a do diabo.

Deus e o diabo são vizinhos de longa data. Como siameses. Moram no mesmo condomínio, dividem o mesmo banheiro e gerenciam o mesmo negócio; um ciclo contínuo, um experimento adolescente para a feira de ciências, uma torta espiral, de infinitas formas de vida, que evolui e involui, lenta, sempre a caminho do mistério. Deus e o diabo jogam o melhor jogo do mundo.

O homem é peça destacada na configuração atual do tabuleiro. Ontem perdeu a vez de jogar e amanhã, talvez, caia na casa do “volte para o início do jogo”. E seremos subjugados por uma forma de vida inteligente superior e tudo acabará pra nós; no melhor filme catástrofe de todos os tempos: a raça humana julgada, por alienígenas mais inteligentes que nós, indigna de prosseguir sua existência; por conta de seus atos vis, provavelmente de americanos: Hollywood seria nossa maior punição. Para as “pecinhas” arrogantes do tabuleiro. Para os que desafiaram o sonho de liberdade, de um “povo democrático”, que só queriam ajudar seus semelhantes e acabaram matando todo mundo.

Mas ainda assim somos livres. Porque deus é Sartre, mas também é Napoleão. A ilusão da liberdade. A alma inquieta. Angústia apaziguada somente no reencontro com a natureza. No reconhecimento de deus; da presença do divino e do mistério na nossa vida medíocre. Deus é simples, quando se aceita seu mistério.

O homem é carente e inseguro. Por isso que o simples e instintivo ato de religar-se, está impresso em tantas encadernações e línguas distintas. Deus não cobra dízimo, porque já nos possui por completo. Enoja-me a manipulação da ignorância através da fé, da carência e do desespero humanos. Inspira-me atos terroristas. Arcanjo Gabriel no extermínio de um mal inquestionável. Eu desafio qualquer pastor desta terra a me curar! Deixo até escolherem o vício, que são muitos, todos divinos. Deus é amor, sob qualquer forma, desde que recíproca. E é piegas mesmo, como não ser, se somos patéticos.

Deus também não é o medo e a punição cristã, que não cobra dízimo, mas pode te mandar pro inferno. Para outro inferno. Mas as grandiosas obras arquitetônicas erigidas pelo cristianismo, são moradas de deus. Também. Não pelo cristianismo, mas pela criação magnífica do homem, pura arte na forma de arquitetura. A verdadeira arte é sempre obra de deus, pelas mãos do homem, a criação recriada, reprodução da vida em cores invisíveis; o mistério desvelado, louvado, perpetuado.

O artista verdadeiro, aquele que aceita o mistério e reencontra o mágico, em um ritual, aonde ele conduz e compartilha o divino em sua manifestação mais sublime: a arte; esse sim, é o verdadeiro soldado de deus. Não os sacerdotes e seus sermões.

Artistas! Como Jefferson Bittencourt e o grupo Cantus Firmus; homem de deus, ciente do poder transcendental de sua arte, grandioso maestro, mediador de experiências únicas, de magia, de encontro, de reconhecimento e significação. Poder divino de poucos, que não foram escolhidos; são abnegados, devotos de seu ofício, sua arte, seja qual for. Um concerto do Cantus Firmus é o melhor exemplo que vi atualmente do que estou falando. Condutor radical para um estado diferenciado. Música em quatro dimensões, visível ao espírito Quem precisa de bíblia pra falar com deus, depois de ver os caras? Quem precisa falar?

O livre arbítrio é o jogo. E deus descansa nas sombras, a nossa espera. Numa oração ancestral ou no mais moderno espetáculo; em catarse coletiva ou na mais absoluta solidão: escreva sua bíblia. Batize o seu senhor. Porque vós, também... sois deus! Ó fardo libertador. Cruz, da qual não há como fugir.




Agradeço ao Marcelo Pimenta que me aconselhou rezar; pela primeira vez repeti esse ritual espontaneamente, originalmente. Entendi cada palavra da ladainha, e pude respondê-las com ação.

Agradeço ao Cantus Firmus – Beatriz Sanson, Maria Cristina Figueredo, Jefferson Bittencourt, Eduardo Serafin, Daniel Signorelli, Marcelo Aguiar – por nos proporcionar uma experiência de pura arte, tão completa, tão tocante, tão maravilhosa. Especialmente agradeço ao Jeff, que me faz chorar sempre com sua arte. Um choro contente, ancestral, da alma mesmo, revelador; do quanto a palavra “arte” pode significar.

Quinto Tiro - 03/10/2006




Diga não às drogas?

Eu uso “drogas”. Muitas “drogas”. E você, com certeza, também. No mundo em que vivemos é impossível não entrarmos em contato com elas: as “drogas”. Nossa natureza humana nos impele inevitavelmente a miserável condição de viciado, “drogado”, repleto de “droga”, a própria “droga” em si; num eterno estado de consumo, rodeado de muletas, estúpidos hábitos, sugando um efêmero prazer, que nos retarda aos poucos e, num bizarro paradoxo, nos mantém vivo.
A grande maioria das “drogas” que alteram a consciência foram descobertas pelos homens enquanto medicamento, uma tentativa de cura para os males que nos afligem: os tumores e as tristezas; as viroses e as vergonhas. São materiais, palpáveis, fáceis de detectar, de encontrar, de conseguir.
Mas existem aquelas que não se pode tocar com os dedos, mas que nos infestam a existência. Escapam da definição convencional de “droga” e, assim, perpetuam-se. Recebem outros nomes, são invisíveis enquanto “droga”, até mesmo em nossa frágil consciência, que ignora o fato de já havermos sucumbido.
Algumas palavras possuem um largo espectro de definições. A “droga” é uma delas. De que tipo de “droga” quero falar? De todos que conseguir encontrar em minha própria vida. “Drogas” químicas. “Drogas” eletrônicas. “Drogas” psicológicas. “Drogas” verdes. “Drogas” tarja preta. “Drogas” emocionais. “Drogas” que andam em duas e até em quatro patas.
Toda “droga” traz prazer e dor. Benefício e malefício, caso contrário, não estariam entre nós desde os primórdios de nossa existência; em todos os rituais, na gênese da arte, na criação dos artistas, no tratamento dos dementes, na educação das crianças, na mente entorpecida dos assassinos, por toda a natureza, em fartas doses.
Algumas apresentam tremendo desequilíbrio entre o prazer e a devastação que promovem, ao passo que outras, bem menos destrutivas (embora ilegais), são estigmatizadas e marginalizadas, tornando-se bodes expiatórios que camuflam a ação de nefastas indústrias que atuam sobre nossas carências.
São as minhas carências que me levam até práticas constantes, repetitivas, exacerbadas. Tudo que é em demasia torna-se nocivo, prejudicial, não importa o objeto ou substância envolvidos na ação. Se a dependência não é somente química, as “drogas”, obviamente, também não são.
E se nossa sina é viver entre elas, sejamos modernos e globalizados: vamos escolher as que nos oferecem a melhor proporção entre custo e benefício, dano e prazer!
Eis a minha lista pessoal!

Maconha. A erva da Jurema! O que posso dizer? O preconceito em torno da maconha é eminentemente social. “É droga de pobre, de vagabundo”! Se o cara bebe, “coitado, tem problemas”! Mas se fuma maconha, “vagabundo”! Numa sociedade hipócrita como a nossa, tudo bem morrer de cirrose, cachaça não é ilegal; e “droga” limpa por aqui é cocaína, que não faz aquela fumaça fedorenta. Mas não se engane, embora menos nociva que o álcool, o cigarro, blá blá blá, maconha faz mal! Fode sua memória, sua resistência física, seus pulmões, sua motivação pra viver, e vicia sim, viu!
Televisão. Está em todos os lares e famílias. Amplamente aceita na sociedade, mas, como qualquer “droga”, precisa ser bem escolhida, para fazer bem; tirando tudo que faz de mal. Estou falando da programação, não da tela plana de plasma. Uma boa programação, bem selecionada, pode ser um bom entretenimento e, até, instrutiva. Mas se pensarmos no monopólio da TV, como forma de entretenimento para as grandes massas neste país e no analfabetismo funcional deste mesmo povo; na falta de hábito de leitura; no senso comum estúpido da população... meu Deus! Claro que é uma “droga”! Claro que vicia! Claro que pode ser manipulada de acordo com interesses específicos; de forma subliminar ou escancarada mesmo hoje em dia!
Café. Êta combustível corrosivo! Café, café, café! Sou tão viciado que tomo um canecão de noite e durmo como um bebê!
Chocolate. Na falta de sexo, não há nada melhor; cientificamente comprovado viu! Eu trepo com uma barra inteira sempre que possível! Mas no dia seguinte, duas horinhas trepando com minha bicicleta, a Tropical, com freio de pé! Essa sim, não tem nenhuma contra-indicação.
Coca-cola. Meu deus! Não consigo parar! Também indicado para desentupir pia!
Sexo. Sempre que possível! Com poucas restrições! Estando tudo encapadinho, vambora!! Intercalado com o chocolate, que tem sido mais freqüente... merda!
Dinheiro. Ai fazer o quê? Adoro. Vicia tanto. É a “droga” mais aceita, se você não tem um pouquinho dela, você não existe para o mundo meu bem!
Política. Outra “droga” indispensável para nossa sobrevivência, a não ser que você seja um eremita numa caverna no alto de uma montanha. Mas até esse cara tomou uma decisão política. A política se torna realmente nociva no âmbito da sua representação pública: com os políticos. É neste extremo da relação humana que o seu cérebro pode ser derretido. Haja visto que reelegeram o Collor, o Maluf... (?) O povo tem merda na cabeça, ou o quê? Pelo menos conseguimos garantir “segundos turnos”! Nem tudo está perdido!
Nicotina. Essa é podre. A campeã absoluta na dependência, química e psicológica, pois torna-se complemento indispensável para outras “drogas” e ações: com a cervejinha, o cafezinho, depois do almoço, do baseadinho, para escrever este artigo, para esperar o ônibus. É a “droga-encosto”; não serve pra nada, mas ta em todas!
Enfim, trocando, por alguns instantes, a hipocrisia por um pingo de sensibilidade, qualquer imbecil poderá concluir: as drogas fazem parte da nossa composição, assim como a água. Se nos dominam, é prisão. Se as dominarmos, é a chave para liberdade.
Minha apologia não é para todos saírem se drogando, mas pelo fim da hipocrisia! Que se libere tudo e que cada um morra como preferir: no meio da bosta do Zebu ou dos Homens!
Minha lista pessoal poderia tomar mais algumas páginas, mas o Leandro me mata, porque já estou atrasada com este artigo. Então, coragem! Complemente a lista com as suas preferidas e diga não! Se for capaz!

Quarto tiro - 23/08/2006




Esperando Vera Fischer

Pela primeira vez na minha vida, eu não sei em quem votar! Não sei! Suplico que alguém me mostre o contrário, que me diga que estou enganado e que existem sim homens públicos comprometidos com a sociedade que os elege.
Desculpem-me, mas não dá pra ser romântico; sonhar com mocinho, um herói, neste mundo de bestas, nesta bomba relógio que é este triste planeta. E o aeroporto não é rota de fuga pra lugar nenhum. Que pena! O mundo acabou antes da grande virada na corrida espacial. Ninguém vai escapar desta vez!
O que estamos vivendo hoje é pior que a Inquisição, pior que a Ditadura, pior que a Escravidão, pior que o Holocausto, pior que um filme do Van Damme. O que estamos vivendo hoje é o “espetáculo do crescimento” de uma espécie moralmente devastada, que cresce e evolui, mas sem respeitar nada.
De que adianta tanta evolução científica se, para o pior dos vírus, o da falta de ética, de escrúpulos, de vergonha, não há sequer pesquisa em andamento? Quem poderia financiá-la?
Será que no âmbito municipal poderíamos descolar uma graninha para tal pesquisa? Hmm, acho que não. É tanta obra por fazer, tanto tapete preto pra estender, tanto cartel no transporte público para manter... É maratona atrás de maratona para vender uma imagem saudável desta ilha que se afunda em desorganização, em crescimento caótico, em exploração desmedida. Ilha da cultura parasitária, do funcionário público, “tradicional”... É, daqui não vai sair verba para acabar com o vírus da sem-vergonhice mesmo. Mas nem tem eleição municipal este ano, que bom! Uma preocupação a menos, ou seria a mais?
Procuremos então apoio nas esferas federais do poder. Piorou! Sinceramente, quem deve estar rindo agora é a Regina Duarte, aquela, que tinha medo. E olha que ela ainda tem a novela das oito para protagonizar. E nós, que nem isso temos? Rejeitamos o Lula e doamos ele para adoção também? Ai, se fosse possível! Pouca vergonha! Mexer assim com a esperança de uma nação. Certo ta é o Gabeira, que disse que: ou o Lula é um corrupto (porque sabia de tudo que rola a sua volta), ou é um completo idiota (se não sabia). O que é pior? Não sei. Mas, pra ter resistido “na luta” tanto tempo e quando finalmente o povo, exausto, o coloca no poder, para uma última tentativa de salvação deste país saqueado desde que nasceu: o cara chega lá e faz esta merda toda... Era melhor ter continuado analfabeto, ou perdido a língua, ao invés do dedo. Então votamos em quem? Nele? De novo? Não, “errar é humano, persistir no erro é burrice”. No Alckmin? A citação anterior também vale para ele e seus partidários. Aliás, nem os seus partidários colocam fé na sua candidatura, por que é que eu vou colocar? Na Heloísa Helena? Eu hein! Não confio mais nessa gente com cara de messias que vem pra moralizar tudo e salvar a pátria. E o que é que a louca e o PSOL vão fazer com o congresso? Dar mesada pra todos pra poder governar também? A coisa ta Russa! Ou melhor, a coisa ta Brasil! Um braseiro! Uma brasa, mora? Moro, mas, se pudesse, me mudava!
Outra que atualmente não tem novela das oito para protagonizar é a Vera Fischer. E aí resolveu baixar por aqui e fazer uma graninha junto aos coronéis do governo estadual, com os quais não vou perder meu tempo pedindo verba para pesquisa contra o vírus da safadeza. Coronéis e ditadores! Que outros nomes podem ter estes senhores, que criam conselhos arbitrários, modificam o curso de leis de incentivo à cultura descaradamente, sem o menor respeito a nada que não seja seu benefício próprio e dos seus. Ou vão-me dizer que é normal a filha do governador, travestida de produtora, dar “carteiraço” por aí, pra financiar produções cariocas? Isso sem considerar que ela é um desafino ininterrupto!
A simples criação desta secretaria utópica que reúne cultura, turismo e lazer já é um ato arbitrário evidente, que facilita o caminho para o “balcão de negócios” que é este governo. Num estado de tremendo potencial turístico, explorado de forma insana, é óbvio que os profissionais da cultura sairão lesados desta equação entre setores tão distintos do governo.
Mas isso não é nada! No caso da Lei de Incentivo Estadual, criaram um “comitê gestor”, que se interpõe entre a avaliação do Conselho Estadual de Cultura e os projetos que ela, de forma legítima, aprova. Esta turminha do barulho, liderada pelo Sr. Edson Machado, que também é diretor geral da Fundação Catarinense de Cultura (um trabalhador abnegado!), está fazendo a maior festa por lá: estacionam projetos já aprovados, retém dinheiro já captado, priorizam o que lhes interessa politicamente, enfim... Nenhuma novidade, velhas raposas, velhas práticas.
Mas se você assistir a propaganda política do governo, meu Deus! Que governo legal é este, com sua perspicaz política descentralizadora! Qualquer um que disponha dez minutos do seu tempo pode verificar o quão inoperante são estas células descentralizadas da administração estadual, que só servem mesmo para cabide de emprego, na verdade um luxuoso “closet” de empregos!
Hoje, a imprensa está noticiando que o nome do nosso excelentíssimo governador foi, finalmente citado no caso da SC Genéricos. Será que daí vai sair um pouquinho de justiça? Será que consigo algum apoio destes laboratórios, negociados pelo governo de forma suspeita, para minha cruzada contra o vírus da cara-de-pau?
Mas, para o Sr. Machado, somos mesmo é um bando de invejosos: “a Vera tem um imóvel aqui”... E daí? ...“representa nosso potencial artístico”... (???) Só se for o dele! Que feio, Sr. diretor da FCC, como o senhor é mal informado! Nosso real potencial artístico está aqui! Sendo arduamente produzido nesta terra de faroeste! Cinema, Teatro, Música, Artes Plásticas, Literatura, da mais alta qualidade, voltadas para o futuro, ousadas e não rançosas e arqueológicas como aquilo que o senhor pensa ser nosso potencial artístico. Afinal, o senhor lê os projetos que recebe ou não?
É por isso, Sr. Luís Henrique e Sr. Edson Machado, que não temos inveja da Vera Fischer, tenho inveja é dos marcianos, dos plutonianos, que, com certeza vivem melhor do que nós, mesmo sob condições climáticas pavorosas.
Quanto à ex-miss, “grande dama do teatro catarinense”, estaremos na primeira fila para assisti-la. Já comecei a guardar dinheiro para poder pagar o ingresso.
Mas cuidado Vera Fischer! Porque a porcelana é fina, o telhado é de vidro e o tempo, este ingrato companheiro, já nos tira o esplendor da juventude! E a paciência também!
Paulo Vasilescu
Fpolis, 23 de agosto de 2006

Terceiro Tiro - 28/07/2006




Ídolos

Duas coisas ficam muito claras ao final da primeira edição do “American Idol” brasileiro: somos um povo repleto de talentos; mas que não sabe reconhecê-los, que não sabe se reconhecer. Apesar de o resultado ter sido, inacreditavelmente, satisfatório, justo. Jurava que ia dar zebra e que aquele menino desengonçado, de lábios carnudos, cílios delineados, tentando cantar que nem a Ana Carolina fosse ganhar. Aí eu ia entrar em depressão mesmo e jogar a TV pela janela.

Mas não! Apesar de toda a marmelada que estamos cansados de saber que rola nestes “reality shows”; apesar da pobreza na produção do SBT nesta versão tupiniquim, o ganhador é um menino (pasmem!) bonito, mas de muito talento, com um timbre novo, diferente; e coisas diferentes são raras nestas produções pasteurizadas. Embora no final, ele já estava contaminado com o vírus da fama instantânea; que é perigosíssimo e pode te matar em poucos dias até. Mas não é culpa dele. É exatamente esta a proposta do programa mundo afora: fabricar um ídolo.

Só que estes programas não são capazes de criar um ser de talento em sua plenitude. Vamos por partes. Qual é a diferença entre artista e celebridade? Um artista é um peão, um ser abnegado, no limite da capacidade física, intelectual e emocional, em prol de algo muito maior do que ele próprio. Um artista não é divino, é mera carne e sangue. Seu trabalho, sua arte sim! Pode chegar ao panteão Tocar um instrumento, viver outras personas, encher o vazio com verdade, não são tarefas fáceis. Tomam a vida inteira. E nem sempre te devolvem o que você espera.

Ao passo que uma celebridade é toda e qualquer pessoa que consegue atrair uma quantidade razoável de atenção por certo tempo. Às vezes bem curto. Alguns espertos conseguem fazer os tais 15 minutos perdurarem por anos. Um bebê de duas cabeças pode ser uma celebridade. Ou sem cérebro nenhum, oco. Tadinho, porém célebre. Patricinhas parricidas são celebridades hoje em dia. Que horror. Quem te garante que não vamos ver ainda nas vitrines bonequinhas Richthofen que fazem xixi, cocô, choram e aceitam drogas, muitas drogas. E até para os meninos, quem sabem: bonecos “Cravinhos em Ação”.

O que programas como “Ídolos” produzem em nossa sociedade consumista chega a ser cruel. Pop-stars descartáveis, one way. Pobre vencedor. Seu talento original, sua personalidade já está sendo mutada, formatada. Sua primeira música de trabalho é sofrível. Se deixassem o menino criar com a sua verdade e experiência de vida, garanto que faria bem melhor. Mas a cultura de massa é matéria manipulada, manjada, rotulada e, talvez até, subestimada. O Faustão passa duas semanas chamando a banda “K-y” de “a maior banda do Brasil” e, pronto, eles viram mesmo! Não é incrível? Não, é horrível. E bem simples até. Mera transação financeira, não requerendo talento ou experiência necessariamente. É pagar e levar!

Bom, uma coisa não dá pra negar. Estes programas revelam o mau gosto do povo, que compra, sem hesitar, tais produtos de procedência duvidosa. No caso do “Ídolos”, sobretudo os adolescentes, principal audiência do programa. Mau gosto e falta de originalidade. A loirinha chata que era clone de algo mais chato ainda, a Pitty, desbancou todos os bons cantores finalistas. Isso sem contar tantos outros bons candidatos que ficaram fora do grande páreo, provavelmente por alguns quilos a mais, por causa de uma cútis oleosa ou “excesso de melanina”. Afinal o que se pode esperar da filha evangélica do Sílvio Santos, que dirigiu este programa (mega sucesso pop no mundo inteiro) preocupada com as gírias dos jurados e o tamanho da saia das candidatas. Faz favor!

Por falar em evangélicos, o que é esta avalanche de gente que pensa que esta hipérbole medonha da música gospel é a única maneira de se cantar? Gritando, se esgoelado, num virtuosismo ensurdecedor e insuportável. Isto sim, deveria ser rotulado pelo Ministério da Saúde como algo prejudicial. E as criancinhas do Raul Gil também!

Só resta desejar boa sorte ao vencedor, ele vai precisar. Para conseguir mostrar o artista por trás da logomarca e tentar desesperadamente fugir da mediocridade existente nos rótulos que carrega. Quanto a nós, devíamos jogar a TV pela janela mesmo e correr para o exílio no mato, no alto da montanha ou no vidrinho de Prozac.

Já que, tal qual na política: “Cada país tem o ídolo que merece!”.




Paulo Vasilescu

Fpolis, 28 de Julho de 2006.

Segunda Crônica - 10/07/2006




A diversidade uniforme dos homens

A 1ª Parada da Diversidade de Florianópolis me alegra e me assusta. Vinte mil pessoas, segundo a polícia militar, quase quarenta mil, segundo os organizadores, se encontraram numa tarde fria na avenida beira-mar, para celebrar a liberdade de expressão, a liberdade da sexualidade humana, para celebrar a vida enfim. Era festa. Mas era, claramente, um ato político. Uma triste tarefa que, cada vez mais, somos obrigados a ter; a de nos auto-afirmar perante uma sociedade mascarada de país da alegria e da liberdade, onde vivem todos juntos numa boa; em harmonia com todas as diferenças, com toda essa “diversidade”.
A “diversidade sexual” é uma resposta para a imposição de normas e leis, de códigos morais e de conduta (sociais, políticas, religiosas econômicas) historicamente postulados entre os homens. É um grito de revolta contra a opressão, a padronização do pensamento e da conduta humana, de acordo com os interesses específicos do poder vigente.
Do ponto de vista biológico, não somos tão “diversos” assim. Estamos predispostos à bissexualidade. A “preferência sexual” participa do sorteio genético, como todo o resto de nossa constituição humana. É o meio, e não o indivíduo, que exige um rótulo, que fatalmente desemboca em segregação e preconceito. “O que é você afinal?”
Todo ser humano tem necessidade de pertencer a um grupo, de identificar-se em uma coletividade, sei disso, mas esse movimento de reunião é natural, ao passo que sua rotulação é política e facilmente manipulada pelo “poder”.
Por exemplo: para quem ainda não sabe, esse papo de que o homem nasceu para a mulher, o sentido do sexo é a procriação, bla bla bla, é um ranço estúpido da catequese cristã que, lá nos seus primórdios (quando o quorum de suas reuniões era bem baixinho) inventou essa balela de “crescei-vos e multiplicai-vos” para aumentar seu exército de devotos. E, tudo bem, para a Igreja Católica, que a conseqüência disso seria (e foi) a superpopulação, a miséria, a fome. Ainda assim, seriam capazes de fazer uma tocha e se juntarem para queimar “hereges”. O sentido do sexo é o prazer, direito inquestionável de todo ser vivo.
Outro exemplo: eu sou gay, homossexual. Ser gay, me relacionar com pessoas do mesmo sexo, faz parte da minha identidade, da minha personalidade, está presente na minha vida, muito além dos meus relacionamentos pessoais. Mas já me relacionei com o sexo oposto e, apesar de me apresentar como gay, não quero excluir esta possibilidade da minha vida; não sei como vou acordar amanhã, com qual desejo. Então sou bissexual, “política de centro”? Mas qual é a proporção para sermos sexualmente classificados? “Meio mussarela, meio calabresa”? Ou se como mais pizza de calabresa que de mussarela tenho que dizer que sou gay então. Quem sabe então gay, com tendências bissexuais? Que horror!
Assumir um rótulo é uma necessidade política da qual não temos como fugir (nosso “livre arbítrio” é bem questionável às vezes), ou corremos o risco de sermos aniquilados pela norma vigente, se ela excluir de sua cartilha, ou bíblia, ou constituição, a sua conduta pessoal.
Por isso o slogan da Parada da Diversidade é perfeito: “Nem mais, nem menos, apenas iguais”. Cada indivíduo tem, ou deveria ter, muito mais para mostrar, que a sua “orientação sexual”; outro termo bem duvidoso. Não somos orientados, nascemos assim. Somos reprimidos, formatados e reagimos a isso de acordo com nossa condição intelectual e emocional.
Somos iguais, mas com belas nuances, que também nos tornam únicos, num rico paradoxo.
A Parada da Diversidade me assusta pela crescente necessidade de defendermos num ato político, uma condição natural do ser humano.
Numa sociedade ideal (completamente fictícia) esses poderosos encontros seriam festa e celebração, encontro e reunião apenas. Não de guetos, mas de todos. Numa sociedade ideal não haveria o estereotipo: nem a bicha-louca que usa sua homossexualidade como arma para agredir a sociedade preconceituosa, que mimetiza o sexo oposto e impregna tudo o que faz com sua condição sexual; nem o machão que precisa ser truculento e desrespeitoso para afirmar sua frágil e insegura sexualidade; nem a devoradora de homens lasciva e sedutora que aceita inconsciente a condição recalcada da mulher na sociedade (também há muito postulada), dispondo apenas das “armas de sedução”, num patético empobrecimento da capacidade da mulher. Não haveria violência contra o que não entendo, talvez nem houvesse o “não entendimento”.
Mas fechemos o livro da imaginação, nossa realidade é bem outra.
Façamos festa e política. Tudo junto! Todos juntos!
E viva a diversidade, ainda que aparente!



Paulo Vasilescu.

Primeira Crônica - 16/06/2006



Todo dia é dia de jogo!

Mas hoje joga a seleção de estrelas. Nosso maior produto. Nosso orgulho. Única força de coesão nacional. Jogamos eu e você, numa sintonia absurda. Transformadora e efêmera. Mas um jogo que não é nosso. Partida marcada, acessível apenas por tele-visão. Grande irmã da pátria. Que nos acomoda em conforto. Senta a bunda da nação e nos desafia ousar desertar.

O Brasil é protagonista de jogos chatos. Mas que surpreendem! Da-lhe Cacá! (acabou de fazer seu gol) Talento individual. Personalizado. Jóias raras que escondem a idéia de que não funcionamos em conjunto. Somente poucos, vão se dar bem! E a seleção é uma gigantesca versão miniatura da nação. Terra dos espertos, dos malandros, de quem tem gingado pra dar e vender. Melhor dizendo, pra vender! Vender bem. Sem nota. Também, com o imposto que se paga pra poder vestir essa camiseta de combinação extravagante, tem mais é que superfaturar, não é? E uma coisa leva a outra. E o futebol é o analgésico de um povo muito doente. É aspirina contra HIV.

Porque não é de futebol que estou falando. O futebol é legal. Belo e salutar esporte de proporções artísticas. Como tantos outros. Melhor que golf, com certeza. Mas é pena tamanha mobilização por algo tão lindo e mágico, mas que muda substancialmente a vida de tão poucos.

Os outros times da copa jogam melhor em todas as partidas, não apenas na copa, mas na cozinha, no banheiro, na sala, na garagem, na escola, na rua e no congresso. Mas na copa somos especialistas insuperáveis. Grande bosta! Nosso talento é manipulado, enlatado, vendido caro e, nesta máquina famigerada só vemos o verde do nosso vão patriotismo. E nos contentaremos mais uma vez, com uma estrelinha bordada na camiseta.

Será covardia? Será que já demos por perdido todos os outros jogos e nos agarramos desesperados, pelo menos, nesta insana catarse coletiva com a bola no pé? Ou queremos é matar o trabalho mesmo? O que vivemos aqui é a hipérbole da tradição cultural, é como um chip implantado no cérebro da nação. Eterna platéia, não atua, só assiste, com transmissão exclusiva.

Na competição mundial, o futebol é um título glamuroso, porém inútil para a nação, além da embriaguez proporcionada pelo espetáculo, do cultivo de uma linda cultura, manipulada de forma nefasta em nosso inconsciente coletivo, enquanto o mundo ao nosso redor desmorona.

Faça festa, torcedor brasileiro! Diz o locutor com nariz de tucano. Ok, façamos festa! Vamos olhar as estrelas e nos embriagar, porque merecemos! Mas cuidado com aquilo que o brilho das estrelas ofusca e esconde!

Fiquem atentos! Viva o Brasil! Salve a seleção!