sábado, 24 de fevereiro de 2007

Primeira Crônica - 16/06/2006



Todo dia é dia de jogo!

Mas hoje joga a seleção de estrelas. Nosso maior produto. Nosso orgulho. Única força de coesão nacional. Jogamos eu e você, numa sintonia absurda. Transformadora e efêmera. Mas um jogo que não é nosso. Partida marcada, acessível apenas por tele-visão. Grande irmã da pátria. Que nos acomoda em conforto. Senta a bunda da nação e nos desafia ousar desertar.

O Brasil é protagonista de jogos chatos. Mas que surpreendem! Da-lhe Cacá! (acabou de fazer seu gol) Talento individual. Personalizado. Jóias raras que escondem a idéia de que não funcionamos em conjunto. Somente poucos, vão se dar bem! E a seleção é uma gigantesca versão miniatura da nação. Terra dos espertos, dos malandros, de quem tem gingado pra dar e vender. Melhor dizendo, pra vender! Vender bem. Sem nota. Também, com o imposto que se paga pra poder vestir essa camiseta de combinação extravagante, tem mais é que superfaturar, não é? E uma coisa leva a outra. E o futebol é o analgésico de um povo muito doente. É aspirina contra HIV.

Porque não é de futebol que estou falando. O futebol é legal. Belo e salutar esporte de proporções artísticas. Como tantos outros. Melhor que golf, com certeza. Mas é pena tamanha mobilização por algo tão lindo e mágico, mas que muda substancialmente a vida de tão poucos.

Os outros times da copa jogam melhor em todas as partidas, não apenas na copa, mas na cozinha, no banheiro, na sala, na garagem, na escola, na rua e no congresso. Mas na copa somos especialistas insuperáveis. Grande bosta! Nosso talento é manipulado, enlatado, vendido caro e, nesta máquina famigerada só vemos o verde do nosso vão patriotismo. E nos contentaremos mais uma vez, com uma estrelinha bordada na camiseta.

Será covardia? Será que já demos por perdido todos os outros jogos e nos agarramos desesperados, pelo menos, nesta insana catarse coletiva com a bola no pé? Ou queremos é matar o trabalho mesmo? O que vivemos aqui é a hipérbole da tradição cultural, é como um chip implantado no cérebro da nação. Eterna platéia, não atua, só assiste, com transmissão exclusiva.

Na competição mundial, o futebol é um título glamuroso, porém inútil para a nação, além da embriaguez proporcionada pelo espetáculo, do cultivo de uma linda cultura, manipulada de forma nefasta em nosso inconsciente coletivo, enquanto o mundo ao nosso redor desmorona.

Faça festa, torcedor brasileiro! Diz o locutor com nariz de tucano. Ok, façamos festa! Vamos olhar as estrelas e nos embriagar, porque merecemos! Mas cuidado com aquilo que o brilho das estrelas ofusca e esconde!

Fiquem atentos! Viva o Brasil! Salve a seleção!

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