sábado, 24 de fevereiro de 2007

Quinto Tiro - 03/10/2006




Diga não às drogas?

Eu uso “drogas”. Muitas “drogas”. E você, com certeza, também. No mundo em que vivemos é impossível não entrarmos em contato com elas: as “drogas”. Nossa natureza humana nos impele inevitavelmente a miserável condição de viciado, “drogado”, repleto de “droga”, a própria “droga” em si; num eterno estado de consumo, rodeado de muletas, estúpidos hábitos, sugando um efêmero prazer, que nos retarda aos poucos e, num bizarro paradoxo, nos mantém vivo.
A grande maioria das “drogas” que alteram a consciência foram descobertas pelos homens enquanto medicamento, uma tentativa de cura para os males que nos afligem: os tumores e as tristezas; as viroses e as vergonhas. São materiais, palpáveis, fáceis de detectar, de encontrar, de conseguir.
Mas existem aquelas que não se pode tocar com os dedos, mas que nos infestam a existência. Escapam da definição convencional de “droga” e, assim, perpetuam-se. Recebem outros nomes, são invisíveis enquanto “droga”, até mesmo em nossa frágil consciência, que ignora o fato de já havermos sucumbido.
Algumas palavras possuem um largo espectro de definições. A “droga” é uma delas. De que tipo de “droga” quero falar? De todos que conseguir encontrar em minha própria vida. “Drogas” químicas. “Drogas” eletrônicas. “Drogas” psicológicas. “Drogas” verdes. “Drogas” tarja preta. “Drogas” emocionais. “Drogas” que andam em duas e até em quatro patas.
Toda “droga” traz prazer e dor. Benefício e malefício, caso contrário, não estariam entre nós desde os primórdios de nossa existência; em todos os rituais, na gênese da arte, na criação dos artistas, no tratamento dos dementes, na educação das crianças, na mente entorpecida dos assassinos, por toda a natureza, em fartas doses.
Algumas apresentam tremendo desequilíbrio entre o prazer e a devastação que promovem, ao passo que outras, bem menos destrutivas (embora ilegais), são estigmatizadas e marginalizadas, tornando-se bodes expiatórios que camuflam a ação de nefastas indústrias que atuam sobre nossas carências.
São as minhas carências que me levam até práticas constantes, repetitivas, exacerbadas. Tudo que é em demasia torna-se nocivo, prejudicial, não importa o objeto ou substância envolvidos na ação. Se a dependência não é somente química, as “drogas”, obviamente, também não são.
E se nossa sina é viver entre elas, sejamos modernos e globalizados: vamos escolher as que nos oferecem a melhor proporção entre custo e benefício, dano e prazer!
Eis a minha lista pessoal!

Maconha. A erva da Jurema! O que posso dizer? O preconceito em torno da maconha é eminentemente social. “É droga de pobre, de vagabundo”! Se o cara bebe, “coitado, tem problemas”! Mas se fuma maconha, “vagabundo”! Numa sociedade hipócrita como a nossa, tudo bem morrer de cirrose, cachaça não é ilegal; e “droga” limpa por aqui é cocaína, que não faz aquela fumaça fedorenta. Mas não se engane, embora menos nociva que o álcool, o cigarro, blá blá blá, maconha faz mal! Fode sua memória, sua resistência física, seus pulmões, sua motivação pra viver, e vicia sim, viu!
Televisão. Está em todos os lares e famílias. Amplamente aceita na sociedade, mas, como qualquer “droga”, precisa ser bem escolhida, para fazer bem; tirando tudo que faz de mal. Estou falando da programação, não da tela plana de plasma. Uma boa programação, bem selecionada, pode ser um bom entretenimento e, até, instrutiva. Mas se pensarmos no monopólio da TV, como forma de entretenimento para as grandes massas neste país e no analfabetismo funcional deste mesmo povo; na falta de hábito de leitura; no senso comum estúpido da população... meu Deus! Claro que é uma “droga”! Claro que vicia! Claro que pode ser manipulada de acordo com interesses específicos; de forma subliminar ou escancarada mesmo hoje em dia!
Café. Êta combustível corrosivo! Café, café, café! Sou tão viciado que tomo um canecão de noite e durmo como um bebê!
Chocolate. Na falta de sexo, não há nada melhor; cientificamente comprovado viu! Eu trepo com uma barra inteira sempre que possível! Mas no dia seguinte, duas horinhas trepando com minha bicicleta, a Tropical, com freio de pé! Essa sim, não tem nenhuma contra-indicação.
Coca-cola. Meu deus! Não consigo parar! Também indicado para desentupir pia!
Sexo. Sempre que possível! Com poucas restrições! Estando tudo encapadinho, vambora!! Intercalado com o chocolate, que tem sido mais freqüente... merda!
Dinheiro. Ai fazer o quê? Adoro. Vicia tanto. É a “droga” mais aceita, se você não tem um pouquinho dela, você não existe para o mundo meu bem!
Política. Outra “droga” indispensável para nossa sobrevivência, a não ser que você seja um eremita numa caverna no alto de uma montanha. Mas até esse cara tomou uma decisão política. A política se torna realmente nociva no âmbito da sua representação pública: com os políticos. É neste extremo da relação humana que o seu cérebro pode ser derretido. Haja visto que reelegeram o Collor, o Maluf... (?) O povo tem merda na cabeça, ou o quê? Pelo menos conseguimos garantir “segundos turnos”! Nem tudo está perdido!
Nicotina. Essa é podre. A campeã absoluta na dependência, química e psicológica, pois torna-se complemento indispensável para outras “drogas” e ações: com a cervejinha, o cafezinho, depois do almoço, do baseadinho, para escrever este artigo, para esperar o ônibus. É a “droga-encosto”; não serve pra nada, mas ta em todas!
Enfim, trocando, por alguns instantes, a hipocrisia por um pingo de sensibilidade, qualquer imbecil poderá concluir: as drogas fazem parte da nossa composição, assim como a água. Se nos dominam, é prisão. Se as dominarmos, é a chave para liberdade.
Minha apologia não é para todos saírem se drogando, mas pelo fim da hipocrisia! Que se libere tudo e que cada um morra como preferir: no meio da bosta do Zebu ou dos Homens!
Minha lista pessoal poderia tomar mais algumas páginas, mas o Leandro me mata, porque já estou atrasada com este artigo. Então, coragem! Complemente a lista com as suas preferidas e diga não! Se for capaz!

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